A
maioria dos sírios deseja a manutenção da ordem e da paz na Síria
e acredita que apenas o Presidente Bashar Al Assad pode manter
esta ordem e fortalecer as instituições do país. A Síria que
eu conheço e que visito e convivo há mais de 35 anos tem uma
população que tem um alto grau de politização e conhece muito bem
as dificuldades e os estigmas que vivem tanto o povo, quanto o
governo da Síria. Por convicção, defendem o princípio da
soberania nacional, da autodeterminação e da não ingerência
estrangeira.
O
cidadão sírio tem consciência e critica a corrupção e morosidade
da atual máquina burocrática deste governo da Síria; deseja
reformas, deseja o combate à corrupção, mas entende que esta luta
deve se processar de forma pacífica, as mudanças têm que ser
construídas e o governo de Bashar Al Assad está empenhado nestas
reformas.
A
população síria está acostumada com conforto, segurança,
estabilidade. País predominantemente agrícola, tem no trigo,
algodão de fibra longa e no azeite a base de sua produção. Em seu
subsolo, possuí petróleo e gás. Enfrenta problemas políticos
que impedem a modernização de suas refinarias e a prospecção de
suas riquezas.
A
vocação de hospitalidade somada à rica e milenar história da
Síria despertou o setor de turismo nos últimos anos. O investimento
em estradas, em hotelaria e em serviços, vinha fomentando o turismo
do mundo inteiro para a Síria. É um país distribuidor de
bens e serviços para todo o mundo árabe seja da Península Arábica,
seja do Norte da África.
Não
é uma sociedade perfeita. Transitou do socialismo ao quase
capitalismo em menos de 12 anos. A Síria dos últimos 42 anos
saiu da miséria e do feudalismo para um socialismo e uma
prosperidade cada vez mais visível em cada um de seus cidadãos.
O país mais laico do Oriente Médio teve na educação a base do seu
desenvolvimento.
Foi
este regime, no período do pai Hafez Assad que conseguiu implantar a
reforma agrária (anos setenta) e os Sírios sunitas, grandes
proprietários de terras e pertencentes ás famílias tradicionais,
imigraram para a Europa e EUA. Alguns dos filhos destes sírios
sonham em retornar… Mas apenas para promover a deposição do
regime e ocupar o poder.
A
Síria hoje tem uma população de 22 milhões de habitantes; a
maioria de 70% é de muçulmanos sunitas; e os demais são 13%
Alauítas; 12% de cristãos; e 5% de drusos, turcomanos e outros.
Os
grupos rebeldes que foram cooptados pelo eixo EUA, Israel, OTAN e CCG
[Conselho de Cooperação do Golfo], não representavam nem 1% da
população síria, no início das manifestações. Mas com o
acirramento dos enfrentamentos, com o dinheiro rolando solto e com as
armas sendo distribuídas em abundancia, e recebendo aplausos da
comunidade internacional, sentiram que deveriam lutar até depor o
inimigo: o governo do Presidente Bashar Al Assad….
Uma
luta cuja motivação é de natureza econômica e política, foi
sendo construído e acirrado nas camadas de baixa renda e
transformado em conflito sectário. A mídia-empresa ocidental
funciona como papagaios da retransmissão das agências de notícias
ocidentais. Estou com saudade de nossos analistas políticos, de
nossos correspondentes e do verdadeiro jornalismo.
A
IMPRENSA no ocidente é teleguiada pela leitura equivocada dos EUA e
OTAN, e desde o início do conflito, usou a comunicação para
desinformar e para doutrinar o cidadão brasileiro, apoiando e
retransmitindo apenas a opinião dos rebeldes. A imprensa brasileira
subestima a inteligência do telespectador e oferece o Fast Food
pronto que as agências de notícia transmitem. Foi e tem sido
parcial e irresponsável ao veicular informações falsas para
referendar seus conceitos.
O
que observamos na imprensa do ocidente é sempre um jornalismo
dirigido e copiado das agencias de notícia como a BBC, France Press
e Reuters, todos copiando a Al Jazeera (Qatar) e transmitindo apenas
as notícias do Conselho Nacional Sírio, Exercito Livre Sírio e
do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (um cidadão sírio
em Londres, posicionado na sua lojinha com um computador e
retransmitindo todas as mentiras e barbaridades que a TV Al Jazeera
lhe pedia).
Temos
relatos das montagens de cenas, blefes, cenas do Iraque como sendo
Síria, helicóptero do Afeganistão como sendo Sírio. Montagem de
sons dos ataques. Durante os ataques em Homs a TV Síria
retransmitia vídeos amadores que captavam os bastidores das
gravações que eram encomendadas pela Al Jazeera.
A
estratégia da imprensa foi focar na ”Primavera Árabe da Praça
Tahrir”, este movimento popular emocionou e contagiou os jovens no
mundo todo e em especial nos países árabes; e como rastilho de
pólvora seguiu para a Líbia e em poucos dias foi votada a moção
no Conselho de Segurança da ONU que autorizou a criação de uma
zona tampão na Líbia, com a alegação de “responsabilidade de
proteger” que permitiu a entrada da máquina de matar da OTAN e
aliados que lutaram junto com a Al Qaeda em Benghazi e depois em toda
Líbia. .
A
guerra humanitária da OTAN e aliados já matou mais de 150 mil
pessoas na Líbia. Criou um caos quase impossível de ser
reordenado; destruiu a infraestrutura de um povo que vivia bem, com
garantias de toda a espécie assegurada pelo governo. Não considero
o governo de Muamar Al Kadafi o ideal, mas este é o país que eles
puderam construir e prosperar.Perdeu o povo Líbio, perdeu o povo
africano a quem Kadafi ajudava e venceu a França e seus aliados com
os novos contratos para se apossar das bacias de petróleo.
A
quem a OTAN e seus aliados vieram proteger? A seus próprios
interesses.
A
opinião pública mundial parou pasma com a chamada “primavera
Árabe”. Apesar da experiência acumulada e do cuidado de
muitos de nós, queríamos crer que havia de fato uma primavera
árabe… Que ilusão! Bastaram poucos dias para assistir pela TV que
o cenário preparado já tinha um script pronto e manipulado na Líbia
através do Sarkosy desde outubro de 2010 (quatro meses antes da
entrada da Líbia na onda da “Primavera”).
No
Egito, ocorreu o mesmo, e tomamos conhecimento da presença de
agentes americanos junto aos manifestantes na Praça Tahrir, e que
chegaram a ser detidos pelas forças de segurança no Cairo. A
diplomacia americana, resolveu o episódio que sumiu da imprensa, e
em seguida, convidaram a representação da Irmandade Muçulmana
em quatro de Abril de 2012, a visitar os EUA e acertar a sua atuação
no futuro governo no Egito.
Esta
preparação com armas e com treinamento militar teve início de fato
depois do ataque perpetrado por Israel contra o Líbano e defendido
bravamente pelo Hezbollah em julho de 2006. Se já havia uma intenção
dos EUA em destruir o governo de Damasco, passou a ser um ponto de
honra para EUA e Israel: Afinal, os mísseis que foram usados pelo
Hezbollah e pelo Hamas foram fabricados e fornecidos por Damasco.
Na
Síria em janeiro de 2011 a embaixada Americana recebe como
embaixador o agente americano Robert Stephen Ford, assessor do
especialista em inteligência o americano John Negroponte que, no
Iraque em 2004, quando foi encarregado de aplicar o plano de
destruição usado em San Salvador e depois replicado no Iraque.
O
objetivo agora era instaurar o caos na Síria: ele conseguiu em 60
dias transformar a Síria de um país pacífico, seguro, tranqüilo e
confiante, em um país instável, inseguro e em guerra de destruição
e desgaste que já dura 16 meses.
A
Rússia e a China, signatários do tratado de Xangai, e membros
permanentes do Conselho de Segurança da ONU, após os acontecimentos
na Líbia e a licença para destruir que foi concedida à OTAN, viram
que o Ocidente, está desestabilizando a região do Oriente Médio e
avançando em áreas estratégicas para o Grupo de Xangai. A Rússia
e China defendem seus próprios interesses ao defender os interesses
do povo e governo Sírio. Ao mesmo tempo em que a queda de Damasco
pode balcanizar toda a região e envolver atores regionais que até
agora permanecem fora do conflito.
A
Rússia tem relações privilegiadas, com a Síria de longa data, que
lhe possibilita a presença de uma Base Militar Russa no Porto de
Tartus. Somam-se a isto, uma relação afetiva com a forte e
representativa população Cristã Ortodoxa da Síria.
Com
a China, a relação Sino- Síria tem base em tratados culturais,
artísticos, econômicos e políticos. Hoje, com o isolamento do
Irã, quem está adquirindo o petróleo iraniano é a China,
inclusive comprando-o por um preço abaixo do mercado, e com uma
negociação em moeda local. Ganha neste negócio a China e o Irã…
Perdem os EUA e o dólar americano, e perde também a União
Européia…
A
quem interessa esta luta sectária na Síria de muçulmanos Sunitas X
muçulmano Xiitas (que dividem o governo com Cristãos, drusos e
Alauítas)? Aos países do Golfo: Qatar, Arábia Saudita e Turquia,
aliados e interpretes do desejo dos EUA, Israel e OTAN. Por que, ao
derrubar a Síria, o caminho fica livre para derrubar a Resistência e o Hezbollah no
sul do Líbano e para atingir o Irã. Portanto, o objetivo é ter o
caminho livre para o Irã e de lá para os gasodutos e oleodutos de
toda região.
Outro
interesse dos EUA e aliados é a mais importante bacia de gás que
está na costa mediterrânea da Síria: ora, se o século XX foi o
século do petróleo, o século XXI é o século do Gás. Esta
disputa já está lançada entre americanos, russos e alemães.
Claude
Fahd Hajjar
Vice-Presidente
da Fearab
América (Federação de Entidades Americano-Árabes)
Autora
do livro “Imigração
Árabe 100 anos de Reflexão”
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