segunda-feira, 3 de junho de 2019

A mulher palestina na luta de libertação nacional


 
Na atual guerra que se desenvolve na Palestina Ocupada, a imagem que mais nos comove é a das mulheres em fuga, mães protegendo seus filhos contra os ataques, crianças mutiladas e órfãs. Mas isto não revela ainda todo o sofrimento e luta da mulher palestina, durante todos esses anos de opressão e perseguição a seu povo.
 
A mulher palestina desde o início do século XX, toma consciência da necessidade da luta contra a dominação estrangeira e junto ao seu povo se organiza e participa da luta popular em defesa de sua pátria.
 
Desde o início do século XX até a criação do Estado de Israel, a mulher palestina toma parte da luta contra a dominação estrangeira. A despeito dos preconceitos existentes e da sua condição de mulher em particular, ela participa dos protestos populares, nas aldeias e cidades, através de greves, atos públicos ou confrontos armados.
 
Em decorrência da luta travada contra a “ Declaração Balfour”, as mulheres se organizam fundando a União Geral de Mulheres da Palestina em 1921, que procurou alargar suas bases no sentido de arregimentar o maior número de mulheres na luta contra a dominação britânica e a implementação do sionismo na sua pátria.
 
Em 1929, a União Geral das Mulheres Palestinas realiza a sua I° Conferência, com 300 mulheres, representando diversas regiões da Palestina, e tomam como resolução principal a denúncia da opressão britânica associada ao sionismo, dirigindo-se a todas as organizações internacionais.
 
Com a intensificação da resistência palestina à dominação inglesa, a mulher desempenha um papel destacado na proteção dos revolucionários, evitando assim castigos coletivos que sofriam as aldeias pela armada inglesa, quando da procura da identidade dos revoltosos.
 
Com a crescente mobilização popular, as mulheres escolhem o dia 6 de maio de 1936 para a realização de uma manifestação de boicote às mercadorias estrangeiras. As mulheres , dirigidas pela União Geral das Mulheres Palestinas, organizam e dão respaldo às atividades dos revolucionários ajudando as famílias dos perseguidos , mortos e presos políticos, arrecadando dinheiro para a compra de armas e munições, confeccionando fardas para os revolucionários. A venda das suas jóias pessoais servia também para a compra de terras, num esforço para que não fossem adquiridas pelos grandes capitalistas sionistas.
 
No terreno militar, suas atividades se restringiam ao transporte de armas, munições e alimentos, burlando a vigilância dos invasores.
 
Nesta época, ainda é pequena a participação da mulher em ações militares, mas quando o fazem são exemplo de coragem e abnegação. Citaremos o nome da heroina Fatma Ghazal que tombou no dia 26 de junho de 1936 durante a batalha de Ein Chazoun, pertode Lydd( região próxima ao atual aeroporto de Telavive.
 
O processo de partilha da Palestina pela ONU e as ações expancionistas e terroristas dos sionistas levaram novamente a mulher a levantar a bandeira da liberdade e da autodeterminação de seu povo.
As formas mais notáveis desta luta foram: cavar trincheiras, construir barricadas e abrigos, formação de organizações clandestinas que acompanhavam os revolucionários assegurando-lhes comida, armas, munições e atendimento aos feridos.
 
No dia 9 de abril de 1948 várias destas mulheres caíram mortasem combate ao defender a aldeia de Deir Yassin.
 
Após a partilha da Palestina pela ONU, cresce a participação da mulher na vida social e produtiva. Grande número de mulheres tornam-se operárias, professoras, ganham acesso a universidade, visando a capacitar-se diante da nova responsabilidade que adquire na proteção à família, visto que a grande maioria dos homens sofre perseguição política ou resiste na clandestinidade e no exílio. Ao lado disto, cresce a sua participação nas atividades sindicais e políticas. São criadas diversas associações de ajuda à população civil no sentido de tornar mais leve os sofrimentos da guerra e do exílio.
 
A partir de 1956, com o recrudescimento das ações armadas de resistência, as mulheres alistam-se nas organizações de fedayins¹. Em 1964, com a criação da OLP, a mulher participa da 2° Conferência da União Geral de Mulheres Palestinas, em Jerusalém, com vistas a atualizar a sua organização para responder melhor às exigências da época- reorganização do povo palestino.
 
Intensifica-se a participação da mulherapós a ocupação total da Palestina em 1967, quando a grande maioria do povo palestino se vê forçado a viver em campos de refugiados.
 
A mulher palestina persiste em sua luta e, através da sua perseverança, abnegação e coragem, transforma a sua luta de simples condição de retaguarda até o confronto armado aberto. Passa a participar na preparação e execução de operações militares.
 
A partir de então, suas principais lutas, encaminhadas através dos núcleos da União Geral de Mulheres Palestinas, são:

  • a luta pela ampliação de suas bases populares e fortalecimento de sua organização;
     
  • a luta para a capacitação das mulheres para assumirem postos na produção, nos projetos econômicos, seguindo o programa da União Geral das Mulheres Palestinas que afirma a importância da mulher na produção e na participação efetiva na construção da sociedade palestina e na realização dos seus plenos direitos sociais;
     
  • a luta pela elevação do nível intelectual e das condições de saúde dos refugiados. A União Geral das Mulheres Palestinas cria cursos de alfabetização para crianças, instala centros de saúde materna e infantíl, cursos de primeiros socorros e enfermagem;
     
  • o cuidado com as crianças palestinas, através da implantação de creches nos campos de refugiados para assegurar assistência médica e educativa e auxiliar o trabalho das mães;
     
  • o papel da mulher nos campos de refugiados tem sido, simultaneamente, de combatentes, enfermeiras e encarregadas das comunicações de rádio nas frentes de batalha. Nos postos de retaguarda elas construiram uma administração autônoma para aliviar os sofrimentos que a guerra inflingiu à população:distribuiçãode alimentos, assistência médica às mulheres e às crianças, mantendo ao mesmo tempo a mobilização política e o treinamento militar.
     
  • Nos territórios ocupados, o papel da União Geral de Mulheres Palestinas foi importante, sendo o mais destacado a participação das mulheres nas manifestações populares contra a ocupação sionista.
     
  • Em 1969, a União Geral das Mulheres Palestinas filia-se à Federação Democrática Internacional de Mulheres ( FDIM)
     
  • Na Conferência Mundial do Ano Internacional da Mulher em 1975, no México, a União Geral das Mulheres Palestinas faz aprovar uma moção de condenação ao sionismo, moção esta aprovada também no Congresso Internacional da Mulher em Berlim.
     
  • A luta da mulher palestina faz parte da luta de seu povo, que tem um só objetivo: o restabelecimento na Palestina de um Estado livre, democrático, não racial, onde todos possam viver em paz, sejam eles judeus, cristãos, muçulmanos e contribuírem, conjuntamente, para o progresso e o bem-estar da coletividade.
     
  • Depoimento de May Sayegh: “ Hoje a mulher é uma base importante da OLP, tanto as que estão aqui como as que vivem no exterior. Nas universidades há praticamente tantos estudantes homens como mulheres. Mas, apesar de todos estes serviços, a mentalidade do homen não mudou. As tradiçõesárabes ainda pesam. Estamos dispersas no mundo árabe. Submetidas às leis de cada país. Posso dar-lhe o exemplo de mulheres universitárias, casadas com homens da Árabia Saudita que hoje vestem as roupas tradicionais daquele país.O mesmo acontece em outros países árabes. Elas vão da escola para a casa depois de terem sidomilitantes revolucionárias. Isso deixa claro que a libertação da mulher palestina só será alcançada com a Revolução. Nada se consegue frequentando e formando-se na Universidade. Não se consegue mesmo participando da economia familiar. São as lei que precisam ser modificadas. E até que tenhamos nosso Estado independentes, com nossas próprias leis, não poderemos superar totalmente as tradições. Nossa União está convencida que a mulher palestina não poderá libertar-se até que a Revolução seja vitoriosa”.
     
  • Quem está mais avançada, a mulher palestina ou a israelense?
     
  • “ A maior ou menor participação da mulher está de acordo com a ideologia. Um Estado sionista, imperialista, retrógrado, como pode ter uma atitude progressista para a mulher/ Sem dúvida, nós estamos mais avançadas”.
              Publicado em agosto de 1982

Nenhum comentário:

Postar um comentário