sábado, 9 de junho de 2018

Síria: O Governo tem a “Responsabilidade de Proteger a sua População”

Síria: O Governo  tem a “Responsabilidade de Proteger a sua População”
30 de agosto de 2013


O governo do Presidente  Bashar Al Assad, eleito democraticamente,com o  apoio da sua população, e usando as prorrogativas que a sua Constituição lhe outorga, prossegue na sua luta de eliminar os grupos armados insurgentes de todos os redutos onde possam estar entrincheirados dentro da Síria.

Neste   início de semana, a ofensiva dirigiu-se  a  Daraya onde os rebeldes haviam estabelecido um grande arsenal dentro da cidade.¹
Situada à sudoeste da capital da Síria e próxima do aeroporto militar Mezzé, Daraya era um dos pilares de apoio à oposição na região metropolitana de Damasco.

Tropas do governo cercaram o bairro e criaram postos de controle, impedindo a entrada de alimentos e outros suprimentos, disseram moradores. A eletricidade, a internet e o serviço de telefone foram cortados.

No meio da semana, centenas de soldados sírios entraram na cidade, apoiados por tanques e caminhonetes com metralhadoras. Soldados e milicianos do governo inicialmente enfrentaram forte resistência do Exército Livre Sírio, mas retomaram o controle de Daraya na sexta. Sem sombra de dúvida, aconteceram um grande número de baixas de ambos os lados do conflito.

Mas o Exércíto Sírio conseguiu o controle daquele subúrbio e destruiu a base de operações táticas dos rebeldes. Foi o bastante para que as agências internacionais replicassem :  que “mais um massacre foi perpetrado pelo Exercito Sírio....” Inflama-se a tensão internacional e cada um dos atores emite a sua condenação.  

O aumento da pressão internacional à Síria acontece um dia após o Observatório Sírio de Direitos Humanos, grupo opositor sediado em Londres, denunciar , o que eles chamam de o “maior massacre dos 17 meses de confrontos na Síria.”

Segundo as diferentes fontes creditadas pela mídia ocidental temos números que variam de “ 13 corpos encontrados, a 30 mortos, a 34,mortos, a 70 em toda a Síria, ai vem os absurdos de 300, 330 e depois 500....As fontes são sempre: OSDH (Londres), Presidente do Conselho Nacional Sírio (Istambul) ou CCL que são os informantes locais da oposição,seguida sempre da desculpa:

“ O balanço é impossível de ser confirmado por fontes independentes pelas restrições impostas pelas autoridades sírias à imprensa.¹”

Esta última frase é totalmente falsa. Todo analista político, jornalista ou cidadão um pouco interessado no desenrolar dos acontecimentos na Síria tem como pesquisar  fontes alternativas confiáveis que indicamos abaixo.

Muitos destes twiteiros internacionais que seguimos, incluindo alguns moram na Síria, ou tem parentes lá, muitas vezes vão até ao necrotério para saber o número de mortos. Checam informações com os parentes das vítimas e nas cidades de origem do conflito.

Estes twiteiros, são jornalistas independentes, que questionam as notícias oficiais seja da oposição, seja do governo.  Muitos, como nós aqui no Brasil, tem um senso crítico e analisam todos os dados e chegam às próprias conclusões: Os dois lados do conflito estão extrapolando. Mas um dos lados é o governo legítimo, responsável por manter a segurança de seus cidadãos,  e o outro é o de gangues pagas para se infiltrar no meio do núcleo da população civil, para instaurar o caos no país e a insegurança em sua população.

Com isso não estou negando que exista sim uma oposição ao governo. Sim existe e é legítima, e considerada pelo Presidente Bashar Al Assad como legítima. Esta oposição ocupa hoje o ministério da Reconciliação Nacional, cujo ministro é Ali Haidar, que perdeu o seu filho assassinado por gangues da oposição mercenária, comprada e que presta um deserviço `a Síria e à sua população.

A responsabilidade por estas mortes é daqueles governos que apoiam uma oposição irresponsável, desagregada, que não tem projeto, não tem programa. É aquilo que chamo de oposição pela oposição, sem um plano de ação, sem metas, sem projetos. Uma oposição que se enfrenta entre si e rejeita um projeto laico para a Síria.

Querem uma oposição coesa? Os EUA há 7 anos financiam uma oposição e até hoje não conseguiram que este saco de gatos pudesse sentar á mesa e dialogar. O dinheiro gasto com os opositores no exterior, mais de 12 milhões de dólares, mostra o tipo de elementos nos quais eles apostaram.

Querem governar a Síria do exterior, dos EUA e da Europa! Ora, quem conhece o problema interno da Síria e o seu povo,  são aqueles que lá vivem e convivem.

Quem pagou e armou estas gangues para destruir a Síria deverá ser levado para o Tribunal Penal Internacional.

E esta lista de países é liderada por: EUA, OTAN, Turquia,Qatar e Arábia Saudita.

Eles são os responsáveis pelo banho de sangue no qual está imersa a Síria.

O Governo Sírio está chamando ao diálogo; a China está disposta a mediar este dialogo; o Irã está sediando a Reunião dos Países não Alinhados; e a Rússia está intimamente envolvida em encontrar uma solução para o conflito...
  
Em entrevista² concedida pelo Presidente Bashar Al Assad, e da qual foi veiculado um script³ , um pouco antes  de finalizar este artigo, diz que o Presidente:

admitiu que seu governo ainda não venceu a batalha contra os rebeldes e que precisa de mais tempo.”...
 "Posso resumir em uma frase: avançamos, a situação no campo de batalha é melhor”
.Assad ainda comentou a ideia da criação de uma zona de segurança na Síria para receber os refugiados, que foi citada pelas potências ocidentais. Mas afirmou que a iniciativa não é realista.
 O presidente sírio ainda minimizou as deserções que abalaram o regime nos últimos meses, ao declarar que o país ficou "limpo" de pessoas desprovidas de patriotismo

¹- Folhapress
:²- Assista na integra na TV  ADDOUNIA :televisão privada da Síria, 
³-RESALE  EDITORIAL : em 29 de agosto de 2012.
- Land Destroyer ‏ @LandDestroyer (excelente site)
 Land Destroyer Report: Geopolitical analysis delivered from Southeast Asia. mirror  
         site:: http://landdestroyer.wordpress.com
         -Tom Feeley ‏ @tomfeeley(excelente site)      
Information Clearing House - News You Won't Find On CNN -
This website has been described by John     Pilger as having a wonderfully free rebellious spirit
- CounterPsyOps ‏ @CounterPsyOps(http://counterpsyops.com/ excelente)
 A new hole in the propaganda matrix
- WebsterGTarpley ‏ @WebsterGTarpley (Americano anti NWO - http://www.youtube.com/watch?v=GTOOxkZ-Dl4&noredirect=1      apóia o senador republicano RonPaul - que tem feito declarações fortíssimas contra os EUA, no que tange a Síria e Irã )
- Aziza ‏ @Aziza23(não sei se homem ou mulher, nem onde mora - uma das fontes mais valiosas de pesquisas de mídia que encontrei - muitos no Twitter tb o/a elogiam)
 All the news that's fit to print. All the opinions that aren't.... #Egypt #Syria

                                      S.Paulo.30 de agosto de 2012

*Claude Fahd Hajjar, Psicóloga,Psicanalista,pesquisadora de temas árabes autora do livro"Imigração Árabe 100 Anos de Reflexão",Vice Presidente de Fearab América.




V° centenário do encontro de duas culturas de Fearab América:Reminescências árabes na Europa dos descobrimentos

Por Claude Fahd Hajjar*

O legado do mundo árabe medieval à grande corrente da história da humanidade necessita de uma pesquisa minuciosa e de uma análise cuidadosa. Os trabalhos do V centenário do encontro de duas culturas têm como objetivo, iniciar o estudo deste tema e aprofundar o seu desenvolvimento para que venha a abranger não apenas a sua anônima contribuição à história do pensamento científico moderno.

Durante 700 anos, a língua árabe foi a depositária da memória cultural, científica, artística, filosófica e comercial da humanidade. Nenhum outro período histórico anterior a este conseguiu reunir por tanto tempo o saber e o conhecimento humano e servir de guardião e de transmissor do legado civilizador da humanidade. Da Ásia à Ásia menor, do norte da África e por toda a Europa, o Árabe esteve presente, recebeu e doou cultura e saber, assimilou conhecimento e os transmitiu.

Este trabalho tentará responder a três perguntas fundamentais:
  1. Por que coube ao mundo árabe medieval ser o depositário da herança científica e cultural do Mundo Antigo e ser o seu transmissor na Idade Média?
  2. Por que outros povos, e em especial o povo romano, não se ocuparam destas tarefas?
  3. Qual foi a real contribuição do Mundo Árabe Medieval à história do pensamento científico moderno?
Primeira questão: Por que coube ao mundo árabe medieval ser o depositário da herança científica e cultural do Mundo Antigo e ser o seu transmissor na Idade Média?

O primeiro fator que determinou e impulsionou a atividade científica do mundo Árabe medieval, foi o perfil psicológico do conquistador árabe da Península, isto é, o guerreiro, o desbravador, o lutador, características que se somaram à história pregressa da região da Síria milenar, cujo inconsciente coletivo carrega a amálgama do acervo cultural de diferentes povos, como o da Pérsia, da Índia, do Egito, e da Grécia antiga.

O segundo fator foi a própria religião Islâmica e o legado do Alcorão que estimulou o interesse científico, pois orienta os fiéis a observar o céu e a terra, para encontrar na natureza provas em favor da fé. A tradição Islâmica, não se cansa de elogiar a ciência.

Encontramos no “Hadisse” uma série de recomendações concernentes à medicina a remédios e à legitimidade de usá-los. Estas recomendações foram utilizadas pelos intelectuais árabes para justificarem sua atividade e alimentar sua sede de saber, investigar e assimilar novos conhecimentos, principalmente na primeira fase da expansão árabe onde cada nova região conquistada possuía segredos e mistérios a serem desvendados e nossos conhecimentos a serem apreendidos.

Outro fator, é ser o herdeiro da Grécia Antiga, o que constituí mais que um motivo de honra para a civilização do mundo Árabe Medieval – significa um alto nível de consciência de si e da aceitação de sua missão de mantendedores e de divulgadores da mentalidade e do patrimônio científico daquele povo.

Outro fator decisivo desse progresso científico foi a consciência e vontade na utilização da energia positiva que emanava deles, novos vencedores. Na busca da assimilação e do desenvolvimento de todo acervo científico e cultural da Grécia antiga.

O processo, a continuidade, a utilização da potência e da força do vencedor, a verdadeira consciência que homem e natureza devem ser estudados e compreendidos para forjarem um mundo melhor. Tanto o Estado Civil quanto o Estado religioso, aliados aos detentores do poder econômico, não mediram investimentos para atualizar, traduzir, divulgar, e desenvolver o pensamento científico da Grécia Antiga.

Segunda Questão: Por que outros povos, e em especial o povo Romano não se encarregou desta tarefa?

Considerações sobre algumas diferenças entre o Império Romano e o Império Árabe, no que diz respeito à ciência e filosofia.

O Império Romano se destacou pelas grandes conquistas, pela potência e extensão de seus domínios. Foi um construtor de marcos arquitetônicos de estílo inconfundível, nos legou monumentos importantes, estimulou as trocas comerciais, unificou interesses na África, no Mediterraneo e Oriente Próximo.

Foi um Império legislador, regendo a sociedade civil através da lei e do direito. A organização do estado e a representação democrática do povo através do Senado e das Câmaras livres foi instituída durante este Império.

A produção agrícola, o cultivo da terra, enfim toda a parte prática do cotidiano, o povo romano possuía e desenvolvia. Porém o imaginativo, o projetivo, o ideativo, o teórico, o científico, estes atributos faltaram àquele povo Romano.

Ciência e filosofia são áreas que necessitam dos atributos da reflexão, teorização, e projeção simbólica. Estas áreas necessitam de questionamentos e de indagações que transcendem o imediato. A especulação científica e filosófica requer a crença no amanhã, requer ainda uma capacidade de pensar e refletir o hoje possa nos conduzir a nova conquista no amanhã. A natureza prática e imediatista do povo Romano e de seus governantes, estava distante disto.

Quando o Império Árabe se expandiu até a Europa no século VIII, esta já vivia a Idade Média da história da civilização. A maior parte dos países hoje conhecidos e que formaram a Europa atual, iniciaram sua condição de Estados no final do século IX, como França e Alemanha.

A primeira fase da história Árabe muçulmana teve início em 654 e a duração de um século, este foi o período Omaíada cuja Capital Damascos, foi o centro político e econômico da época.

Foi com o declínio do poder de Damascos e a mudança da sede do poder para Bagdá, que a dinastia Omaíada mudou-se para a Espanha, onde desde 711 possuía já domínio e poder. Foram os Árabes da Síria, e sob a égide dos governantes Omaíadas que se tornaram senhores da África Setentrional e da Espanha.

Os Califas da Dinastia dos Abassídas dominaram a parte oriental do Mundo Islâmico durante os 500 anos seguintes.

No início do século IX, conforme Philip Hitty, “setenta e cinco anos após a fundação de Bagdad, o mundo que lia árabe conhecia os principais trabalhos filosóficos de Aristóteles, os mais importantes comentadores neoplatonicos e também as obras científicas persas e hindus...A influencia grega alcançou seu ponto mais alto no governo de Al Mahmun. As tendências racionalistas deste Califa levaram-no aos trabalhos filosóficos gregos, à procura de justificação para o seu ponto de vista, deque os textos religiosos devem concordar com o julgamento da razão....”

Para o filósofo francês Alexandre Koiré, “não basta saber grego para compreender Aristóteles ou Platão- eis aí um erro freqüente entre os filólogos clássicos-; é preciso, além disso, saber filosofia...”
“ Em 830, Al Mahmun estabeleceu em Bagdad sua famosa “Casa da Sabedoria” uma combinação de biblioteca, academia e escritório de traduções, que foi, sob vários aspectos, a instituição educacional mais importante desde a fundação do museu de Alexandria, na primeira metade do século III antes de cristo”.

Foi no período de Al Mahmun que foram traduzidas as obras de Galeno,Hipócrates e Dioscórides, Platão e Aristóteles. O brilhante tradutor Hunayan (Joanício - 809-873) traduziu para o Siríaco e para o Árabe, quase toda a produção científica de Galeno.

Os sete livros de anatomia deste autor, perdidos no original grego, foram felizmente preservados em árabe.

Para Hitty, “...tudo isto aconteceu numa época em que a Europa ignorava quase totalmente a ciência e o pensamento dos gregos. Pois, enquanto AL Rashid e Almahmun estavam estudando as filosofias grega e persa, seus contemporâneos do Ocidente, Carlos Magno e seus nobres, estavam engatinhando na arte de escrever os seus nomes”.

Para Koiré, “ A barbárie medieval, econômica e política, teve como origem... a ruptura de relações entre Oriente e Ocidente, entre o mundo latino e o mundo grego.
E é o mesmo movimento - a falta de relações com o oriente helênico - que produziu a barbárie intelectual do ocidente”.

Esta ruptura se deve à ausência e “indiferença quase total dos Romanos pela ciência e pela filosofia. Os Romanos se interessam pelas coisas práticas: a agricultura, o direito, a moral. Mas, por mais que procuremos, em toda a literatura latina clássica, uma obra científica digna desse nome, não a encontramos; muito menos uma obra filosófica. Encontraremos, Plínio, Seneca, Cícero ou Macrobino, porém nada que pudesse revelar um espírito de investigação e de ciência, um verdadeiro espírito da busca do saber. O mais surpreendente, é que nem as traduções do grego para o latim foram realizadas. Nem Platão, nem Aristóteles, nem Euclides, nem Arquimedes, jamais foram traduzidos para o latim, durante a época clássica.”

A retomada das relações entre oriente e ocidente foi realizada pelo mundo árabe medieval, que ao traduzir inúmeras obras do patrimônio universal, se fixou mais na herança helênica e manteve em língua árabe todo o saber do mundo antigo. A retomada de contato com o pensamento antigo, foi que impulsionou o desenvolvimento da filosofia medieval. Na Idade Média, o oriente não era mais grego, era árabe. “Assim, foram os árabes os mestres e educadores do ocidente latino”.

Terceira questão: ”Qual foi a real contribuição do mundo árabe medieval à História do Pensamento Científico moderno?”

Ao responder a esta questão, estarei desenvolvendo todo o percurso da trama de retomada das relações entre Oriente e Ocidente que foi realizada pelo Mundo Árabe Medieval.

Quando em754, os Abassidas tomaram o poder dos Omaíadas, o mundo árabe perdeu sua hegemonia. Construíu ainda a sua idade de ouro, porém 100 anos depois, teve início seu declínio, cujas conseqüências nós seus herdeiros, estamos até hoje pagando o tributo.

Se por um lado, a divergência Omaíada - Abassída foi negativa e letal para o mundo árabe em geral, ela ainda assim, pôde ser extremamente benéfica para o mundo ocidental.
A contribuição árabe oriental, isto é, a chamada idade de ouro da civilização árabe, foi desenvolvida pelo califado Abassída. Porém, foram os Omaíadas que transportaram a língua árabe com todo o acervo cultural da região Síria à Espanha.

O Império Árabe Ocidental, teve início na Espanha em 756, quando Abd Al Rahman I funda o emirado Omaíada de Córdoba. Para o Ocidente, a importância deste período.

É muito mais intensa, pois foi a partir da Espanha muçulmana que partiu a cultura árabe, interpretando a cultura cristã dos princípios da Idade Média e produzindo a civilização de hoje
A disputa de poder entre Abassídas e Omaíadas teve como aliado dos Abassídas Carlos Magno inimigo natural de Abd AL Rahman I, Emir da Espanha.

A disputa entre vizinhos, foi vencida pelo Emirado Árabe Ocidental, alcançando a primasia sobre Francos em uma batalha em 778.

Consolidado e pacificado o reino de, Abd Al Rahman I, passou a interessar-se pelas artes da paz, onde pode ser tão grande como a guerra.

Teve inicio aí a construção da Espanha:

- Embelezou as cidades sob o seu domínio;
- Construiu um aqueduto para fornecer água pura à capital.
- Iniciou a construção de uma muralha ao redor da cidade.
- Erigiu para si um palácio e um jardim similar ao palácio da Síria.
- Canalizou água para a sua residência, onde introduziu plantas exóticas como os pessegueiros e romaneiras. Importou palmeiras da Síria a quem mimava com ternos e nostálgicos versos.
- A grande mesquita de Córdoba foi inaugurada dois anos antes de sua morte, em 778- foi considerada o Santuário do Islamismo Ocidental.
- Construiu a ponte do “Guadaquivir” (O Grande Rio).

Abd Al Rahman I, diligentemente procurou unir em uma única nação árabe, sírios, berberes, numidas, hispano-árabes e godos. O início do movimento intelectual que fez da Espanha islamítica dos séculos IX ao XI, um dos grandes centros da cultura mundial, foi inaugurada por ele.

No século X, o califado Omaíada na Espanha, sob o poder de Abd Al Rahman chega ao seu apogeu. Córdoba passou a ser a cidade de maior cultura da Europa e, ao lado de Constantinopla e Bagdá, um dos três centros culturais do mundo.

-113 mil casas e 21 subúrbios;
-70 bibliotecas e inúmeras livrarias
-500 mil habitantes;
-700 mesquitas;
-300 casas de banho;
- quilômetros de ruas pavimentadas e iluminadas pelas luzes das casas que lhe davam acesso.

A Espanha deste período era um país prospero e rico e possuía:
- 13mil tecelões;
-Florescente indústria de couro; Know How que depois exportou para o Marrocos, França e Inglaterra.
- Teciam lã e seda. O bicho da seda foi trazido pelos mercadores árabes da China para a Espanha.
- Louças, utensílios em cobre e cerâmica eram produzidas em diferentes cidades espanholas.
-Ouro e prata eram extraídos em Jaer e Algarve.
-Ferro e cobre em Córdoba;
- Em Málaga, os Rubís.
- A arte da incrustração do aço e outros metais com o ouro e a prata e decorá-los com desenhos florais foi importada de Damasco.
-A agricultura foi estimulada por novos métodos trazidos da Ásia Menor;
-Cavaram canais, cultivaram vinhas e introduziram o arroz, o damasco, a romã,a laranja, a cana de açúcar, o algodão, o açafrão,..
- Sevilha importava, através de seu porto fluvial, tecidos e escravos, e exportava algodão, azeitonas e azeites.
-O serviço postal regular era privilégio do povo da Espanha.

O período de Al Hakam, sucessor de Abd Al Rahman III se notabilizou pela proteção à educação.
- Fundou 27 escolas livres em Córdoba.

 Ao dar um conceito liberal aos estudiosos, fez com que a Universidade de Córdoba ascender a uma proeminente posição em relação às demais instituições do mundo.

Estudantes cristãos e muçulmanos foram atraídos para estudar nela, não só da Espanha, mas de toda Europa, Ásia, e África.

Al Hakam ampliou a Mesquita que serviu de sede à Universidade e a enriqueceu com novos adornos, contratou professores orientais para ensinar nela, e destinou a eles verbas especiais para os salários.

A capital possuía uma grande biblioteca que foi enriquecida por AL Hakam, já que ele era um grande bibliófolo; seus agentes percorriam as livrarias de Alexandria, Damasco e Bagdad, com ordem de comprar e copiar manuscritos. Os livros reunidos chegaram a alcançar, segundo cálculos, 400 mil volumes.

O nível geral da cultura na Andaluzia era tão alto, nesta época, que um estudioso holandês, Doseg, chegou a declarar que “quase todos sabiam ler e escrever”.

Tudo isso acontecia enquanto a Europa cristã estava ainda adormecida.
Como já foi visto, enquanto o Califado Árabe Oriental se esmerava nas traduções das obras helênicas, persas e hindus seu rival, o califado Árabe Ocidental seguia o mesmo percurso e bebia da mesma fonte.

A retomada das relações entre Oriente e Ocidente se processou graças à luta do poder Árabe que pode favorecer tanto ao Oriente quanto ao Ocidente.

A Contribuição ao Ocidente

                                          Conhecer é voltar-se para trás, é, por essência uma regressão ao infinito”. (Wilhelm Friedrich Nietzche)


Os portais das instituições educativas da Espanha muçulmana ostentavam uma inscrição favorita:

“O mundo é sustentado por quatro coisas apenas:
   a sabedoria dos sábios,
   a justiça do grande,
   as preces do justo e a
   coragem do bravo”.  (Hitty, 1948, pg.149)

Porém, nem a justiça, nem a fé, nem a coragem, foram as virtudes que mais impressionaram a Europa; mas sim, a sabedoria árabe, esta , impregnou o pensamento europeu por muitas vias.

“A Espanha maometana escreveu um dos capítulos mais brilhantes na história intelectual da Europa medieval”. (Hitty, 1948, pg 149)

Entre os séculos VIII e XIII, como já foi assinalado, os povos que falavam o árabe eram por todo o mundo os principais portadores da tocha da cultura e da civilização, os agentes da ciência e da filosofia antigas que foi por eles recuperados, aumentada e transmitida, possibilitando assim o renascimento na Europa Ocidental.

As primeiras universidades do mundo não foram as de Paris, Oxford, ou de Chartres; mas sim, as de Córdoba, Granada, Sevilha e Málaga. A Universidade de Córdoba incluía entre seus departamentos, os de astronomia, matemática e medicina, além de teologia e direito. O número de alunos alcançava os milhares e eram procedentes da Espanha, do norte da África e de outras regiões da Europa.

A biblioteca que atendia à Universidade de Córdoba chegou a possuir mais de 400.000 obras. Semelhante número de livros não poderia existir se não houvesse a fabricação de papel local, que entrou na Europa via a Espanha no século XII.

E foi no século XII que a Europa Latina viu florescer as primeiras cidades e com elas as primeiras universidades.

O que era a Europa naquele período?

Conforme Jacques Le Goff: “quando o Ocidente não faz mais do que exportar matéria prima – embora comece a despertar o desenvolvimento têxtil- os produtos raros, os objetos de valor vêm do Oriente, de Bizâncio, de Damasco, de Bagdad, de Córdoba.
Com as especiarias e a seda, os manuscritos trazem para o Ocidente a cultura greco –árabe ” (s/d pg.33).

“...os caçadores cristãos de manuscritos gregos e árabes desfraldaram as velas até Palermo, onde os reis normandos da Sicília e depois Frederico II,com sua chancelaria trilingue – grega, latina e árabe – animam a primeira corte italiana corte italiana renascentista, precipitam-se sobre Toledo, reconquistada aos infiéis em 1087, onde os tradutores cristãos puseram mão à obra, sob a proteção do Arcebispo Raimundo (1125-1151)”(s/d pg. 33/34 Le Goff).

“Os tradutores, eis os pioneiros deste renascimento. O Ocidente já não entende o grego; Abelardo lamenta-o e exorta as religiosas do Paracleto a preencherem essa lacuna, ultrapassando desta forma os homens no domínio da cultura”

“A língua científica é o Latim. Originais árabes, versões árabes de textos gregos, originais gregos, são, portanto, traduzidos quer por indivíduos isolados, quer... por equipes” ( s/d pg.34 Le Goff)”.
O que impulsiona o Ocidente cristão primitivo, a estudar o árabe e a traduzir o Alcorão?

A célebre equipe de Pedro, O Venerável, que traduziu o Alcorão, ficou conhecida e seu objetivo era estudar o pensamento islâmico para poder guerreá-lo.

Assim se expressa Le Goff “... Pedro, O Venerável foi o primeiro a conceber a idéia de combater, não no terreno militar, mas no terreno intelectual. Para recusar sua doutrina, é necessário conhecê – la – e esta reflexão, que nos parece de uma evidencia total, é uma audácia neste tempo de cruzada” (Le Goff- pg. 34- s/d).

“No poder humano de transmitir, por meios sociais, sua ciência e arte, reside o segredo da maior parte do que é nobre e duradouro na civilização do homen.”(Hitty, 1948)

Não foi a esta realidade que assistiram os herdeiros da Espanha muçulmana.

Após 2 de janeiro de 1942, data da queda de Granada, tem início uma campanha para a queima e anulação do vestígio Árabe- islâmico da Espanha. Granada foi o cenário de uma fogueira de manuscritos árabes.

Neste mesmo período, após a queda de Constantinopla, quando o Império Otomano assume o poder em todo o Oriente Árabe Sírio, a biblioteca de Damasco foi inteiramente queimada e seus livros e manuscritos todos se perderam.

Assim, permaneceu até os dias de hoje anônima a contribuição árabe à medicina, matemática, astronomia, geografia, ótica, filosofia....manteve-se viva e atuante até meados do século XVII e XVIII, através das obras e compêndios trazidos para o Latim e o inglês.

Na verdade, a contribuição européia à história da ciência teve início justamente com o início do declínio árabe, isto é, século XIV e XV.

Os últimos 500 anos, justamente aqueles que o V centenário do Encontro de duas Culturas comemora, e ao qual estamos dando nossa contribuição, foram os mais obscuros e deturpadores do conhecimento humano.

O conjunto de monarquias e reinos que veriam a formar a Europa atual, estavam vivendo o seu nascimento enquanto sociedades organizadas.

Não resta a menor dúvida de que as Cruzadas tiveram como resultado a anulação do traço árabe na Europa, e sua completa negação como presença significativa no desenvolvimento e na formação da Europa contemporranea, sem esquecer o papel do conhecimento científico árabe na era dos descobrimentos, que conduziram a Europa a uma expansão nunca antes imaginada.

Quem tentar encontrar um sinal da presença árabe na Europa, sua contribuição para o Ocidente, ou quem tente entender o que são ou que foram, encontra o deserto do saber- não há em nenhum livro escolar, a não ser recordações simbólicas. Os professores, na classe, falam do valor e da riqueza da cultura árabe. As pesquisas que se fazem são desgastantes, pois pesquisamos 20 livros para encontrar 10 frases. Os bons livros, quase sempre são obras raras e de difícil acesso.

Hoje podemos responder à pergunta:

Porque os intelectuais do mundo são todos simpáticos à causa árabe?

A resposta é simples: Estes intelectuais tem acesso a obras e livros que o grande público ou mesmo o estudante secundarista não tem acesso . O intelectual é um pesquisador e estudioso nato, pesquisa por conta própria e na busca da origem do fato ou do texto acaba por se chocar com o tabu, com o proibido e o escamoteado e para o amante do saber, isto é um grande êxito e se transforma em um novo desafio que o conduzirá a novos descobrimentos. Porém estes conhecimentos continuam encaixotados, pouco utilizados, e sem divulgação pois não trazem dividendos e não interessam a quem fugiu deles durante V séculos.

Leão Kossovitch, citando Nietsche, diz: “....Só há criação de valores aonde existem diferenças. É por isso que as forças conspiradoras guerreiam contra a criação... o criador é a quem mais odeiam: aquele que quebra tabus e antigos valores... a estes é que chamam de criminoso...crucificam a quem escreve novos valores em tábuas novas”.

São Paulo, agosto de 1991

Apresentado em espanhol, na Reunião de Fearab América -Damasco - Síria por ocasião do início das festividades do “ V°Centenário do encontro de duas culturas”.

*Claude Fahd Hajjar, psicóloga psicanalista, autora do livro" Imigração Árabe 100 anos de Reflexão"
Diretora de Cultura de Fearab América e Coordenadora do "Vº Centenário do Descobrimento da América- Encontro de Duas Culturas" - (1990-1992)



Palestina 2014:O massacre de Gaza e a mulher palestina


Por Claude Fahd Hajjar*

A estreita Faixa de Gaza de apenas 360km², onde vivem 2 milhões de palestinos, sobrevive aos massacres israelenses perpetrados indiscriminadamente contra crianças, mulheres e velhos.
Foi assim em 2008/2009, 2012 e agora, mais do mesmo, em 2014. O esporte preferido do Estado de Israel é massacrar palestinos. Estas agressões estão cada vez mais violentas e mais danosas à população e principalmente à mulher que é responsável pelo lar e pela manutenção da continuidade dentro do seio familiar.

A política do governo de Israel é indiferente com a população palestina. As mesmas políticas letais são aplicadas a homens, mulheres, meninos e meninas de forma indiscriminadas. No entanto, as mulheres sofrem problemas particulares. A pobreza causada pelo bloqueio faz com que 80% moradores de Gaza dependam da ajuda alimentar e que uma grande proporção deles sofra desnutrição e anemia.

Em Gaza, seja mulher ou homem, se sofre as mesmas consequências devido ao bloqueio e à ocupação. Nesta estrita faixa de terra é proibido sonhar com um futuro melhor, não é permitido ter a realização pessoal que o estudo e o trabalho proporcionam ao ser humano: o bloqueio imposto aos habitantes pelo “democrático” e “ moderno” Estado de Israel, transforma a vida das pessoas em uma prisão. Não flui a economia, não se realizam os projetos, não há acesso a cursos de mestrado e doutorado para os jovens universitários, as opções que existem são limitadas. Israel, há dez anos, proibiu os moradores de Gaza de estudarem na Cisjordânia. Assim como, o Egito durante o regime de Husni Mubarak( 1981-2011) impediu centenas de estudantes palestinos de solicitar bolsas de estudo em universidades estrangeiras, pois colaborava com o regime de prisão imposto por Israel e não permitia a saída dos jovens da Faixa de Gaza.

Os ataques selvagens e deliberados das forças israelenses às escolas em Gaza afetam mulheres e homens. E são a continuação do processo de asfixia proposto e executado por Israel para concluir a sua limpeza étnica. As limitações que as forças israelenses impõe às aspirações e desejos de uma grande massa populacional produz um sofrimento capaz de buscar soluções e vazão através da resistência, a esta cruel dominação e opressão.

A mulher palestina é a personificação da resistência, é forte, determinada, é o reflexo da constante luta do povo palestino, que sobrevive há 66 anos de ocupação e usurpação de seu território, de seus direitos universais, de seus sonhos e aspirações, de seu direito à soberania e à autodeterminação. É a mulher na Palestina que sofre com a morte ou prisão de seu marido ou filhos, é esta mesma mulher que tem que transformar a dor com a perda de seus filhos em força para continuar a resistir, a continuar a viver e continuar a ser a mola propulsora de toda a engrenagem familiar.

Em Gaza o ritmo da vida não é normal , as mulheres se adaptam a uma vida improvisada e anormal sob o bloqueio e a ocupação, muitas delas lutam no mundo pela igualdade no trabalho e para erradicar a violência de gênero. Mas para a mulher e a maioria das habitantes de Gaza, elas lutam pelos seus direitos mais básicos: uma vida sem privações. Viver em um pequeno pedaço de terra, onde as necessidades básicas como água potável, eletricidade regular, saneamento adequado e formas de laser não são atendidas, gera um sentimento de revolta , particularmente por ser provocado pelos contínuos ataques de um agressor ocupante e impiedoso, como é o caso de Israel.

O sofrimento das palestinas sob o sítio imposto aos moradores de Gaza há sete anos, durante e após o ataque de 23 dias de Israel no final de 2008, que deixou 1.400 pessoas mortas, entre elas 112 mulheres, ainda não se aplacou e as moradoras de Gaza continuam lutando para tentar acabar com sua dor e suas feridas causadas pela perda de filhos, maridos, familiares suas casas e seu sustento; e um novo ataque vem ceifar novas vidas e acabar com a ilusão desta população tão perseguida e amargurada por ter como vizinho um cruel usurpador de terras e de vidas como é Israel.

Mesmo as mulheres que tem acesso a educação universitária em Gaza convivem com problemas, para elas insolúveis, que são a pobreza e o desemprego causados pelo bloqueio. Relembrando que esta mulher é arrimo de família econômica, social e moralmente pois seu marido, pai ou irmão morreu , ou está preso, e ela necessita continuar cuidando de filhos, irmãos e mãe. As letais operações israelenses geram e intensificam a crescente pobreza com a qual convivem cotidianamente estas mulheres.
 A ausência de oportunidade de trabalho para mulheres formadas e especializadas geram um desespero e uma impotência que atinge mais de 40% da população feminina desempregada.
Este patético sítio que afeta o cotidiano de todos, afeta especialmente as mulheres. Nos últimos anos, cada vez mais mulheres foram obrigadas a assumir a chefia da família porque seus maridos foram assassinados, estão em prisões israelenses ou desempregados por causa do bloqueio. Mas a maioria delas não tem meios para ganhar dinheiro, optando por trabalhos como a venda de produtos, artesanatos, isto é, uma forma alternativa de trabalho.

Assistimos pela TV ao massacre em Gaza, nos horrorizamos com a destruição de prédios, casas, hospitais, além das escolas, creches e berçários, e nos perguntamos como farão para sobreviver estas mulheres às destruições causada por bombardeios israelenses, insensíveis a qualquer dor que tenham infligido à população. Como pode Israel esperar ter uma convivência pacifica com os palestinos quando se permite um massacre destas proporções?

Um informe do Centro Palestino de Direitos Humanos, sobre o sofrimento das mulheres de Gaza, destaca que as perspectivas não vão melhorar enquanto não terminar o sítio israelense e for permitida a atividade econômica normal. A consequência da terrível situação econômica conduz muitas mulheres e suas famílias a continuar caindo cada vez mais em uma profundo e atroz pobreza. Sofrem os horrores de uma guerra ilegal e agora vão buscar forças para sobreviver.

O recado que a mulher palestina envia ao mundo é: “Perdemos famílias e filhos e sofremos sob os bloqueios e ataques do exército de Israel. Carregamos todo o sofrimento de nosso povo, mas continuamos vivendo e resistindo”

 S.Paulo, 29 de agosto de 2014

*psicoterapeuta e pesquizadora de temas árabes, autora do livro” Imigração Árabe – 100 anos de Reflexão, Ícone Editora, 1985, S.P.