sábado, 27 de setembro de 2014

Aspectos psicológicos decorrentes da imigração sírio libanesa

por Claude Fahd Hajjar
  1. Imigração como fator de ruptura da continuidade

A imigração é a saída do habitat natural onde o sujeito foi criado e onde suas raízes estão fincadas. Portanto imigrar é desenraizar.

Desenraizar é deixar para trás todas as pessoas, fatos, localidades, história, a casa, a escola, as árvores, enfim a natureza na qual foi criado o sujeito – A quitanda, a fruta, o queijo, o sabor.
-As árvores, as flores, a natureza, as pedras, o cheiro e o tato.
- O mar, a mãe, o pai, suas relações e seus aconchegos o cheiro, o tato, o olhar, o sabor.
- A língua, , a metáfora, a piada, as histórias contadas por seu avô, os acontecimentos sociais, políticos, econômicos- deixa para trás o seu ouvir.
Assim, ao imigrar ele abandona , rompe , se afasta de seus cinco sentidos básicos que o constituem enquanto sujeito humano e que até aquele momento foram primordiais para ele. Vive sem se aperceber do luto, da perda, da melancolia do que fora obrigado a deixar para trás, mas que na realidade psíquica ele trás inscrito dentro dele, na memória, no inconsciente, na lalíngua conforme Lacan.


II-Como é vivida a experiência da imigração psiquicamente


O imigrante, nos primeiros tempos de sua chegada ao novo habitat encontra-se sob o impacto do novo, novo espaço, novos conhecimentos, e também uma nova língua. Neste período ainda não pode avaliar todas as dificuldades que o aguardam : ainda sob o efeito esfuziante da elação, está eufórico, sente-se acolhido, recebido , o centro das atenções
A fixação
O processo de fixação traz consigo as primeiras responsabilidades, as primeiras cobranças, e a necessidade de buscar por si só a sua independência: entra em contato com o desconhecido, no idioma, na localização e direção. Toma consciência da sua dificuldade de circular e se comunicar como na terra natal.
O esforço desprendido é grande para a captação e tradução e compreensão do novo cotidiano. É o primeiro momento em que ele toma consciência da necessidade do outro, o seu conterrâneo e também o seu interlocutor na nova sociedade. Ele se apercebe como dependente, portanto um sujeito já não tão “livre” quanto sua fantasia lhe iludia antes de imigrar. Imigrar antes significava partir, libertar-se, voar.
Imigrar hoje significa se adaptar-se limitar-se e fixar-se.


A natureza psíquica do ser humano possuí mecanismos próprios de auto - preservação do ”eu”.
Com referência aos acontecimentos externos, o ser humano possuí o seu ego ,o si mesmo, que desempenha a função de ir integrando o sujeito à nova realidade física e psíquica.
Papel do Ego:
O ego desempenha a função de:
  1. Armazena as experiências resultantes das experiências vividas - memória
  2. Evita estímulos excessivamente intensos ( fuga)
  3. Lida com os estímulos moderados (adaptação)
  4. Aprende a produzir modificações convenientes no mundo externo, em seu próprio benefício – ação
Para a busca da melhor adaptação à realidade, o imigrante se utiliza de mecanismos de defesa – capacidade de aliviar um pouco a dor do impacto de toda a nova pressão cultural na qual está inserido e do qual não conhece suas matizes essenciais. Esse novo habitat não se resume apenas nas novas pessoas, novas ruas, nova casa, novos cheiros, novos sons, novo tato ou novo olhar.
O mais forte e brusco na realidade é a ausência de tudo aquilo que ele não viveu. Naquele novo habitat, é a história pregressa da cidade, dos novos amigos, é o processo econômico, político e social que lhe são estranhos e estão ausentes de sua memória. Em termos de Brasil ele é limpo, branco, sem memória e sem história.
A sua história , a que carrega consigo é de um outro lugar , a experiência histórica pregressa dele, a sua Lalingua, as miçangas que formaram o seu “eu” até aquele momento são estranhas e muito diferentes do histórico e da história na qual agora está mergulhado. Sou estranho, sou estrangeiro, esta é a sua nova realidade.
As piadas, metáfora, a história pregressa daquela comunidade, daquela cidade, estado e país ele desconhece. Os acontecimentos sociais, políticos, econômicos, não estão em seu poder, ele não lhes tem registro, não estão de posse desse sujeito- imigrante .
Não tem registro, em sua memória, estão armazenados suas vivencias do lugar de origem, que servirão de base e suporte para a sua sustentação no novo habitat.
São os registros originais que se constituirão no seu repertório do mundo interno. Ele fará um esforço para neutralizar estes registros, para poder assim reescrever sua nova história . Começa aí o empenho para o domínio da nova língua e suas significações.


III-Diferenças individuais como fatores importantes para vencer o desafio da Imigração
Para alguns, a imigração se constitui num desafio a ser vencido e a nova sociedade escolhida para viver é vista como uma nova possibilidade de desenvolvimento e crescimento.
Para esta pessoa, que sabe lidar com o novo, a experiência será enriquecedora e sua utilização conduzirá a um melhor desenvolvimento e crescimento.


Como é o perfil psíquico deste sujeito integrado?


A maturidade psíquica é um fator primordial o que significa ter os pés no chão, saber lidar com a realidade sem exagerar e nem diminuir os fatos e os acontecimentos. Se utilizar menos dos mecanismos de negação, fuga e se utilizar mais dos mecanismos de adaptação e de transformação do mundo externo através do trabalho e integração. A maturidade psíquica implica numa boa distribuição de energia, para os múltiplos papéis que o sujeito desempenha no seu meio familiar, profissional e social. Carregar mais do que o necessário um dos papéis, dar-lhe mais peso do que o necessário naquele momento é sintoma e consequência de uma desorganização mental interna.
Por exemplo, o imigrante tende mais a enfatizar, priorizar o trabalho, o econômico, e muitas vezes a abandonar o afetivo e o familiar( neste caso não só o imigrante).Este comportamento tende a desequilibrar o seu cotidiano e certamente gerará uma desorganização que irá ser sentida por ele e pelos que o cercam. Saber distribuir o melhor possível a energia e dar a devida prioridade a cada papel é o ideal a ser atingido por cada ser humano.
O sujeito maduro saberá melhor que outros a arcar com essa tarefa e cumprirá melhor seus propósitos, diferente daquele, menos desenvolvido e menos preparado emocionalmente.
Para o imigrante frágil emocionalmente, e logo menos desenvolvido, esta experiência poderá ser vivida desde o difícil até o traumático.
Situações de medo, temor, reticências, isolamento, depressões profundas, negações da realidade e refúgio no álcool, na droga e no jogo são alguns dos possíveis comportamentos encontrados em diferentes indivíduos que assim manifestaram a sua neurose em decorrência da imigração.
Além desses sintomas mais fortes, alguns ainda podem se comportar com mecanismos de fuga e ou negação frente às novas experiências a serem vividas.

As novas gerações na imigração


O filho do imigrante trás em si uma porção de marcas, nele impregnadas graças ao processo adaptativo vivido pelos pais. O filho tende sempre a se mostrar principalmente na adolescência, em oposição ao pai. Por exemplo:
Filho de pai palmeirense pode querer torcer pelo São Paulo.
Pai politicamente de direita, filhos de esquerda. Porque?


Essas diferenças manifestadas através do confronto pai x filho, primeiro servem para promover a separação simbólica necessária entre identidade do pai e do filho que o amor demasiado pode comprometer.
Na questão política, o que temos notado é que os filhos se identificam com facilidade com a população local e suas aspirações. Enquanto que os pais se identificam com a continuidade, o poder constituído, com a linha burocrática, clássica, com o conservadorismo...
Sabemos que os filhos mantém uma relação mais sadia com o seu
meio, conquistando nele espaços e posições onde podem expressar suas potencialidades e realizar-se pessoal, social e politicamente.
Enquanto os pais sentem este espaço um tanto quanto distante deles e de suas aspirações. A relação do pai imigrante é com os outros imigrantes, com quem naturalmente se identifica e à exceção da relação profissional que exige um contato com todas as camadas da população, o imigrante restringirá seus contatos aos parentes, outros imigrantes como ele, representantes diplomáticos e oficiais e a todas as pessoas que de uma forma ou outra aprendem a superar melhor o luto resultante da imigração.
Detectamos aí o início do conflito familiar na imigração.
Os pais com uma formação e com dificuldades muitas vezes de passa-la para os filhos.
Filhos necessitando se afastar dos pais e de sua história diferente para serem aceitos no seu meio escolar, universitário, entre os amigos que viriam a conquistar.

ALGUNS DOS SINTOMAS EMOCIONAIS VIVIDOS PELOS FILHOS DOS IMIGRANTES
  1. Dificuldades de aprender os dois idiomas, resultando no gaguejar, por ser forçado a falar no idioma dos pais ( três anos de idade)
2-Esquecer o idioma paterno por negação da própria origem e de suas tradições.

3-Os filhos de imigrantes sentindo vergonha dos pais ao vê-los se expressar no idioma local com forte sotaque árabe.

4-Os nomes que são carregados dos significados da terra de origem dos pais , é motivo de chacota para os filhos... muitos quiseram mudar seus nomes.

5-Os pais com dificuldades de chegar aos filhos e criando assim uma barreira intransponível no relacionamento principalmente com o filho adolescente. Este vazio de relacionamento, e o afastamento entre pais adolescentes pode ser perigosamente preenchido por vícios muito presentes no mundo escolar e adolescente.

6- Esquecimento brusco da língua paterna e a negação dos valores importantes dos pais e da história pregressa dele e de sua terra e de sua família.

ALGUNS DOS COMPORTAMENTOS MAIS COMUNS ENCONTRADOS NOS IMIGRANTES

- Dificuldades de se aprender a língua local;

- Negação da nova sociedade onde se escolheu para viver;

- Resistência a se deixar cativar pelo novo habitat por medo da perda da individualidade e da própria identidade;

- Dificuldade em se manter novos relacionamentos por preconceitos sobre o povo daquela localidade.
( As diferenças culturais, são aspectos normais em decorrência do estilo e da natureza de cada povo e de cada etnia. Quando tomamos contato com qualquer cultura diferente da nossa, a primeira reação é de ter um conceito antecipado, por isso chamado de pré – conceito sobre os aspectos diferenciados da nossa cultura.)

_ Contínua reafirmação da identidade nacional original demonstrada na comparação compulsiva entre o aqui ( terra da imigração)e o lá ( terra de origem).

- a dificuldade em integrar-se corpo e mente aos 5 sentidos naturais- o paladar, o olfato, o tato, a visão, e a audição- quando esta dificuldade estiver vencida, o desafio da imigração foi superado.

- Quando o imigrante consegue se comunicar com os cidadãos ao seu redor, com o novo idioma adquirido, ao invés de se tornar participante e ativo no processo político local, ele tenta se utilizar de seus novos relacionamentos em favor da causa de seu país de origem.

Devo salienta que muitos desses sintomas e desajustes não são tão somente decorrentes da imigração. Cada caso é um caso particular e deverá ser tratado com a sua singularidade.
Porém a imigração é um enigma a ser decifrado e integrado ao código do filho. Isto é, caberá aos pais, professores e psicoterapeutas conduzir este jovem pelo caminho trilhado pelo pai, coloca-lo em contato com o seu recalcado com o que ele precisou esquecer e que considera a causa essencial de seu infortúnio, de sua diferença. 
Levá-lo a avaliar o seu passado a sua família, a sua história e a de seus pais , a avaliar e a tomar contato com a sua tradição, pois será no ato de resolver, de separar, de escolher, de peneirar, o que ele deve descartar ou aquilo que ele deve manter, do antigo, da tradição, da herança, trabalhando para integrá-la no seu cotidiano, na sua vida atual.

São Paulo,22 de junho de 1989
Claude Fahd Hajjar
Palestra no Centro Cultural Árabe Sírio




























segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Pesquisadora mostra o outro lado do conflito na Síria


A maioria dos sírios deseja a manutenção da ordem e da paz na Síria e acredita que apenas o Presidente Bashar Al Assad pode manter esta ordem e fortalecer as instituições do país. A Síria que eu conheço e que visito e convivo há mais de 35 anos tem uma população que tem um alto grau de politização e conhece muito bem as dificuldades e os estigmas que vivem tanto o povo, quanto o governo da Síria. Por convicção, defendem o princípio da soberania nacional, da autodeterminação e da não ingerência estrangeira.


O cidadão sírio tem consciência e critica a corrupção e morosidade da atual máquina burocrática deste governo da Síria; deseja reformas, deseja o combate à corrupção, mas entende que esta luta deve se processar de forma pacífica, as mudanças têm que ser construídas e o governo de Bashar Al Assad está empenhado nestas reformas.
 
A população síria está acostumada com conforto, segurança, estabilidade. País predominantemente agrícola, tem no trigo, algodão de fibra longa e no azeite a base de sua produção. Em seu subsolo, possuí petróleo e gás. Enfrenta problemas políticos que impedem a modernização de suas refinarias e a prospecção de suas riquezas.
 
A vocação de hospitalidade somada à rica e milenar história da Síria despertou o setor de turismo nos últimos anos. O investimento em estradas, em hotelaria e em serviços, vinha fomentando o turismo do mundo inteiro para a Síria. É um país distribuidor de bens e serviços para todo o mundo árabe seja da Península Arábica, seja do Norte da África.
 
Não é uma sociedade perfeita. Transitou do socialismo ao quase capitalismo em menos de 12 anos. A Síria dos últimos 42 anos saiu da miséria e do feudalismo para um socialismo e uma prosperidade cada vez mais visível em cada um de seus cidadãos. O país mais laico do Oriente Médio teve na educação a base do seu desenvolvimento.
 
Foi este regime, no período do pai Hafez Assad que conseguiu implantar a reforma agrária (anos setenta) e os Sírios sunitas, grandes proprietários de terras e pertencentes ás famílias tradicionais, imigraram para a Europa e EUA. Alguns dos filhos destes sírios sonham em retornar… Mas apenas para promover a deposição do regime e ocupar o poder.
 
A Síria hoje tem uma população de 22 milhões de habitantes; a maioria de 70% é de muçulmanos sunitas; e os demais são 13% Alauítas; 12% de cristãos; e 5% de drusos, turcomanos e outros.
 
Os grupos rebeldes que foram cooptados pelo eixo EUA, Israel, OTAN e CCG [Conselho de Cooperação do Golfo], não representavam nem 1% da população síria, no início das manifestações. Mas com o acirramento dos enfrentamentos, com o dinheiro rolando solto e com as armas sendo distribuídas em abundancia, e recebendo aplausos da comunidade internacional, sentiram que deveriam lutar até depor o inimigo: o governo do Presidente Bashar Al Assad….
 
Uma luta cuja motivação é de natureza econômica e política, foi sendo construído e acirrado nas camadas de baixa renda e transformado em conflito sectário. A mídia-empresa ocidental funciona como papagaios da retransmissão das agências de notícias ocidentais. Estou com saudade de nossos analistas políticos, de nossos correspondentes e do verdadeiro jornalismo.
 
A IMPRENSA no ocidente é teleguiada pela leitura equivocada dos EUA e OTAN, e desde o início do conflito, usou a comunicação para desinformar e para doutrinar o cidadão brasileiro, apoiando e retransmitindo apenas a opinião dos rebeldes. A imprensa brasileira subestima a inteligência do telespectador e oferece o Fast Food pronto que as agências de notícia transmitem. Foi e tem sido parcial e irresponsável ao veicular informações falsas para referendar seus conceitos.
 
O que observamos na imprensa do ocidente é sempre um jornalismo dirigido e copiado das agencias de notícia como a BBC, France Press e Reuters, todos copiando a Al Jazeera (Qatar) e transmitindo apenas as notícias do Conselho Nacional Sírio, Exercito Livre Sírio e do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (um cidadão sírio em Londres, posicionado na sua lojinha com um computador e retransmitindo todas as mentiras e barbaridades que a TV Al Jazeera lhe pedia).
 
Temos relatos das montagens de cenas, blefes, cenas do Iraque como sendo Síria, helicóptero do Afeganistão como sendo Sírio. Montagem de sons dos ataques. Durante os ataques em Homs a TV Síria retransmitia vídeos amadores que captavam os bastidores das gravações que eram encomendadas pela Al Jazeera.
 
A estratégia da imprensa foi focar na ”Primavera Árabe da Praça Tahrir”, este movimento popular emocionou e contagiou os jovens no mundo todo e em especial nos países árabes; e como rastilho de pólvora seguiu para a Líbia e em poucos dias foi votada a moção no Conselho de Segurança da ONU que autorizou a criação de uma zona tampão na Líbia, com a alegação de “responsabilidade de proteger” que permitiu a entrada da máquina de matar da OTAN e aliados que lutaram junto com a Al Qaeda em Benghazi e depois em toda Líbia. .
 
A guerra humanitária da OTAN e aliados já matou mais de 150 mil pessoas na Líbia. Criou um caos quase impossível de ser reordenado; destruiu a infraestrutura de um povo que vivia bem, com garantias de toda a espécie assegurada pelo governo. Não considero o governo de Muamar Al Kadafi o ideal, mas este é o país que eles puderam construir e prosperar.Perdeu o povo Líbio, perdeu o povo africano a quem Kadafi ajudava e venceu a França e seus aliados com os novos contratos para se apossar  das bacias de petróleo.
 
A quem a OTAN e seus aliados vieram proteger? A seus próprios interesses.
 
A opinião pública mundial parou pasma com a chamada “primavera Árabe”. Apesar da experiência acumulada e do cuidado de muitos de nós, queríamos crer que havia de fato uma primavera árabe… Que ilusão! Bastaram poucos dias para assistir pela TV que o cenário preparado já tinha um script pronto e manipulado na Líbia através do Sarkosy desde outubro de 2010 (quatro meses antes da entrada da Líbia na onda da “Primavera”).
 
No Egito, ocorreu o mesmo, e tomamos conhecimento da presença de agentes americanos junto aos manifestantes na Praça Tahrir, e que chegaram a ser detidos pelas forças de segurança no Cairo. A diplomacia americana, resolveu o episódio que sumiu da imprensa, e em seguida,  convidaram a representação da Irmandade Muçulmana em quatro de Abril de 2012, a visitar os EUA e acertar a sua atuação no futuro governo no Egito.
 
Esta preparação com armas e com treinamento militar teve início de fato depois do ataque perpetrado por Israel contra o Líbano e defendido bravamente pelo Hezbollah em julho de 2006. Se já havia uma intenção dos EUA em destruir o governo de Damasco, passou a ser um ponto de honra para EUA e Israel: Afinal, os mísseis que foram usados pelo Hezbollah e pelo Hamas foram fabricados e fornecidos por Damasco.
 
Na Síria em janeiro de 2011 a embaixada Americana recebe como embaixador o agente americano Robert Stephen Ford, assessor do especialista em inteligência o americano John Negroponte que, no Iraque em 2004, quando foi encarregado de aplicar o plano de destruição usado em San Salvador e depois replicado no Iraque.
 
O objetivo agora era instaurar o caos na Síria: ele conseguiu em 60 dias transformar a Síria de um país pacífico, seguro, tranqüilo e confiante, em um país instável, inseguro e em guerra de destruição e desgaste que já dura 16 meses.
 
A Rússia e a China, signatários do tratado de Xangai, e membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, após os acontecimentos na Líbia e a licença para destruir que foi concedida à OTAN, viram que o Ocidente, está desestabilizando a região do Oriente Médio e avançando em áreas estratégicas para o Grupo de Xangai. A Rússia e China defendem seus próprios interesses ao defender os interesses do povo e governo Sírio. Ao mesmo tempo em que a queda de Damasco pode balcanizar toda a região e envolver atores regionais que até agora permanecem fora do conflito.
 
A Rússia tem relações privilegiadas, com a Síria de longa data, que lhe possibilita a presença de uma Base Militar Russa no Porto de Tartus. Somam-se a isto, uma relação afetiva com a forte e representativa população Cristã Ortodoxa da Síria.
 
Com a China, a relação Sino- Síria tem base em tratados culturais, artísticos, econômicos e políticos. Hoje, com o isolamento do Irã, quem está adquirindo o petróleo iraniano é a China, inclusive comprando-o por um preço abaixo do mercado, e com uma negociação em moeda local. Ganha neste negócio a China e o Irã… Perdem os EUA e o dólar americano, e perde também a União Européia…
 
A quem interessa esta luta sectária na Síria de muçulmanos Sunitas X muçulmano Xiitas (que dividem o governo com Cristãos, drusos e Alauítas)? Aos países do Golfo: Qatar, Arábia Saudita e Turquia, aliados e interpretes do desejo dos EUA, Israel e OTAN. Por que, ao derrubar a Síria, o caminho fica livre para derrubar a Resistência e o Hezbollah no sul do Líbano e para atingir o Irã. Portanto, o objetivo é ter o caminho livre para o Irã e de lá para os gasodutos e oleodutos de toda região.
 
Outro interesse dos EUA e aliados é a mais importante bacia de gás que está na costa mediterrânea da Síria: ora, se o século XX foi o século do petróleo, o século XXI é o século do Gás. Esta disputa já está lançada entre americanos, russos e alemães.
 
Claude Fahd Hajjar
Vice-Presidente da Fearab América (Federação de Entidades Americano-Árabes)
Autora do livro “Imigração Árabe 100 anos de Reflexão”

Fonte: IAnoticia julho 2012

Síria: EUA, OTAN e CCG (Qatar e Arábia Saudita) Aliados Para a Destruição Da Síria

As duas explosões que ocorreram em, 10 de maio de 2012, em Damasco às 7e30 no horário local, geraram revolta e indignação na comunidade internacional, temor e tremor na população síria e inúmeras reflexões e questionamentos na população de origem síria na imigração.
 
É temerário pensar que estas ações poderiam ter sido executadas por cidadãos Sírios opositores ao Governo; assim como, é inverossímil crer que os organismos de segurança do governo do Presidente Bachar Al Assad teriam algum benefício com semelhante ação.
 
A tragédia que assistimos pela TV ontem deve ser atribuída a pessoas, entidades ou governos interessados em prejudicar a sociedade síria, impedindo que se estabeleça o diálogo nacional proposto pelo CS da ONU. Tal diálogo só poderá ser levado a cabo se for respeitado por todas as partes do conflito. Caso isso não seja possível, o CS da ONU ameaça intervir. A impressão que temos é que, justamente quando a Síria está concluindo uma eleição para o Parlamento e concomitantemente, recebendo os observadores da ONU, os ataques se intensificam como provocações que buscam a instabilidade que justificaria uma intervenção externa.
 
Mas quem deseja a guerra ao diálogo?
 
Sabe-se através das agencias de notícias, que a Turquia deu abrigo e treinamento ao “ exercito livre sírio” na fronteira com a Síria. E a agencia noticiosa da Síria, mostrou o grande número de sequestros de civis, assim como, franco atiradores posicionados em Homs, que tinham como único objetivo atingir oficiais, personalidades, e jovens que se negavam a empenhar armas e se mantinham solidários ao governo ou dentro de uma oposição que apoia o diálogo. 
 
As agencias de notícias apreenderam armas e munições que vinham da Líbia, e seriam recebidas através do porto do Líbano e contrabandeadas para a Síria. Ainda através das agencias de notícias sírias e libanesas, temos conhecimento da presença de mercenários sauditas (salafitas) e outros, que estiveram presentes na Líbia e no Egito, estão agindo na Síria, e cooptados ativistas e opositores ao regime sírio mediante salários mensais.
 
Aqueles que lutam contra o diálogo nacional sírio só podem ser considerado criminosos a serviço de governos que desejam a morte de cidadãos sírios, a desestabilidade de seu governo e plantar o temor no cidadão sírio.
 
Nada justifica esta carnificina que se instalou na Síria e que vem sendo financiada com o dinheiro dos países do CCG (Conselho de Cooperação do Golfo) e seus aliados, disposto a depor o Governo Assad à revelia da opinião do povo Sírio.
 
Que exista oposição ao Governo, sim concordamos e consideramos salutar.
 
Que exista uma disputa política e um Dialogo Nacional para que, os muitos erros, sejam sanados, concordamos e consideramos assertivo. 
 
Mas por que da destruição de prédios, e a morte de civis inocentes? 
 
Crianças e jovens a caminho do trabalho e escolas?
 
Gigantescas explosões em bairros residenciais e centrais? 
 
O objetivo destes terroristas e os governos enfermos, que os apoiam é levar a instabilidade ao povo de Damasco. Ameaçar as grandes cidades. Criar o caos e a desordem e minar a estrutura da sociedade síria.
 
O Império não aceita ser desafiado.
 
Tudo começou em 2003 quando o Presidente Bashar Al Assad não aceitou ser aliado dos EUA de George W. Bush e Dick Cheney na invasão ao Iraque.
Foi decretado aí o final do governo Al Assad. 

Ou o governo de Bashar Al Assad torna-se aliado do governo americano e da OTAN na Invasão ao Iraque, e colabora com a destruição do governo, povo e da infra- estrutura do Estado Iraquiano ,ou, estaria decretado o seu fim.
 
Foi em 29 de setembro de 2003 que o governo americano, convocou uma conferência em Washington dedicada ao futuro da Síria, da qual participaram personalidades e representantes de partidos políticos sírios que atuavam nos EUA. Foi confiada a tarefa, a estes opositores, de buscar alianças com os seus pares, opositores Sírios na Europa e na Síria. Começa aí o financiamento da Oposição Síria. (L’expresso,pg.78e79,5 febbraio 2004, di Dina Nascetti)
 
Em 2003, a Síria vivia o início de sua abertura política e econômica, que resultaram no afrouxamento da vigilância de suas fronteiras, por onde as armas financiadas pelos EUA, CCG e OTAN com os seus aliados no Líbano e na Turquia, tornaram real a posse de armas e a luta armada.
 
A “Primavera Árabe” teve início em janeiro de 2011 na Tunísia, inspira o Egito, e se estende para a Líbia e atinge a Síria.....Em menos de três meses se espalha pela porção mundo árabe não alinhada aos EUA, mas – Pasmem! - não consegue contagiar a Arábia Saudita, a Mãe de todas as ditaduras do Mundo Árabe, onde, apenas para citar um exemplo, as mulheres não podem dirigir um automóvel ... O fato da primavera árabe não contagiar a Arábia Saudita é um grande indício (porém não o único) de ter sido um movimento fabricado por Países do Ocidente. Mas para encobrir o que?
 
A Criação do Estado da Palestina
 
Foi no dia 1 de dezembro de 2010 que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, declarou a necessidade da Criação do Estado da Palestina com as fronteiras, anteriores a 1967.
 
Esta declaração do Brasil, que foi o primeiro país a dar o seu apoio á criação do Estado da Palestina foi seguida por outros 140 países,; e que fora referendada em 23 de setembro de 2011, quando a Presidente Dilma Russef, fez o seu histórico pronunciamento, da primeira presidente mulher a usar o pódium da Assembleia Geral da ONU. 
 
A Campanha pelo Estado da Palestina Já , estava sendo articulada pela diplomacia do Presidente Abbas.
 
 Esta ação afirmativa da Autoridade Nacional Palestina, não interessa a Israel, e não interessando a Israel, não Interessa aos EUA; e não interessando aos EUA, não interessa à OTAN... e logo também aos seus aliados no Golfo...
 
Com a “Primavera árabe” mudaram o foco do mundo...
 
O foco saiu do Estado de Israel, país antidemocrático, de governo não-laico, segregador, preconceituoso e racista, opressor e usurpador das terras Palestinas e a quem não interessa a criação do Estado Palestino. 
 
O novo foco de atenção do mundo foi dirigido aos países árabes não alinhados com Washington, que sempre denunciaram a política de dois pesos e duas medidas que o Ocidente Norte Americano e seus aliados empregam na sua relação com o Estado de Israel e o povo Palestinos.
 
Uma Primavera que nunca existiu , pois, desde o início foi estimulada e monitorada....No Egito pela infiltração da Cia junto à Fraternidade Muçulmana ( que foi convidada a Washington e recebida na Casa Branca em 5 de abril de 2012; na Líbia orquestrada por Sarkozy desde outubro de 2010; e na Síria como vimos acima, com suas sementes remontando a 2003 e à invasão americana ao Iraque.
 
Vamos aguardar os acontecimentos, mas queremos crer que o mundo não é mais o mesmo desde o veto da China e da Rússia em 4 de fevereiro de 2012 no Conselho de Segurança da ONU.
 
Fica registrada aqui a nossa indignação, com todos aqueles que acreditam que podem substituir, o desenvolvimento, o fomento à criação, a produção e ao bem estar e a felicidade dos povos ; pela guerra, e assim destruir a soberania e a dignidade das nações . 
 
Os últimos quarenta anos da Síria puderam criar um grande bem estar, progresso, educação, saúde e moradia para a maioria da população Síria. Faltava muito... Sim, sempre falta em todos os países do planeta, mas não vai ser através dos ” Senhores da Guerra” e da destruição que iremos implantar o bem estar e a paz. 
 
A receita dos “Senhores da Guerra”, invadir para proteger, levaram o Iraque a retroceder 40 anos. A ação na Líbia resultou na morte de 140mil cidadãos e conduziu a um retrocesso de outros quarenta anos.
 
Não podemos permitir que esta tragédia também seja o destino da Síria.
 
Sim ao Dialogo Nacional! Sim à deposição de armas! Que todas as responsabilidades sejam apuradas. 
 
A tragédia de 10 de maio de 2012 não poderá ficar impune!
 
Claude Fahd Hajjar, São Paulo,11 de maio de 2012
Psicóloga, psicoterapeuta e
pesquisadora de temas Árabes


Gibran Khalil Gibran " O americano árabe do Líbano"

GIBRAN KHALIL GIBRAN “ O Americano Árabe do Líbano”*
Nascido na localidade de Bsharre, Líbano, em 1883, viveu em seu corpo as marcas da história de seu povo, inserido dentro de um contexto econômico político que determinou o comportamento imigratório de libaneses, palestinos e sírios nos últimos anos do século XIX até os primeiros anos do século XX.
Com doze anos de idade, Gibran emigrou para os Estados Unidos da América em 1895, acompanhando a mãe e os irmãos. Tentativa corajosa de uma mulher que buscou na expansão da América a realização da potencia reprimida de seu povo.
Amargava o povo do Crescente fértil a consequência do então domínio do Império Otomano, e , potencialmente visado como polo de negociações dos interesses internacionais que destilavam as divergências internas das diferenças nacionais árabes, usadas como argumento para dar consistência a outros projetos que a Europa e América necessitavam orquestrar e executar.
A moderna história imigratória do povo árabe, seja ele libanês, palestino ou sírio coincide com o nascimento da trajetória de Gibran Khalil Gibran, enquanto imigrante e poeta.
Ao mergulhar na obra e contribuição artística de Gibran, estamos decifrando o inconsciente coletivo de um povo que clama pela liberdade, pela justiça e pela busca de realização de sua potencialidade recalcada e reprimida por séculos de usurpações que remontam ao século XII quando da decadência árabe na Europa e consolidada no século XV com a ascensão do Império Otomano, que estancou o pouco de sangue e vitalidade que ainda irrigavam as veias da região árabe da Síria de então, incluindo nelas os atuais Estados do Líbano, Palestina e outros.
Gibran foi o emergente psíquico, a voz poética, a sensibilidade artística, o livre pensador cujas raízes estavam fincadas no velho mundo, e cujas asas o conduziam ao futuro, à América.
Em suas veias corria o sangue de uma multiplicidade de culturas como a fenícia, aramaica, assíria, pérsica, grega, árabe e outras.
Ao imigrar e atravessar o Atlântico transportava em sua bagagem a tradição e a história do mundo antigo, deixando para trás suas divergências, suas mágoas e seus nóz mal resolvidos.
Na amplitude do espaço e riqueza americana, encontra o habitat ideal de expansão e de desenvolvimento de suas potencialidades, que lhe eram negados no velho continente.
Na América, descobre outra riqueza cultural, resultante do intercambio de raças e culturas que por milênios transitaram entre Ásia, África e Europa. A bagagem científica, tecnológica, política e administrativa do velho mundo fora uma valiosíssima aquisição que a América acabara de receber e que antes desconhecia.
Este período não reservou apenas farturas e riquezas; doenças, epidemias, revoltas e inúmeras dificuldades foram vividas, tanto pela população autóctone como pelos colonizadores e imigrantes. Da mesma forma que a mãe natureza atraí e irradia vida e plenitude, ela também expulsa e rejeita muitos de seus filhos.
O poeta e livre pensador Gibran Khalil Gibran, desenvolve sua obra na mesma medida do desenvolvimento e aperfeiçoamento do seu Eu. Seus biógrafos coincidem em posicionar os diferentes períodos que marcaram sua produção artística e literária.
No início de sua obra encontramos o Árabe Libanês Gibran que escreveu no seu idioma natal os seus dois primeiros períodos, o “Romântico” e o “Revolucionário”.
É o Americano Árabe, Gibran, já amadurecido, mais fecundo e universal que vai escrever em inglês, e assim internacionalizar a sua produção nos outros dois períodos denominados de o“ Filósofo Desiludido” e o “ Sábio Supremo”.
No “Filósofo Desiludido”, Gibran, produziu “ O Errante”, “ O Louco”, “ O Precursor”, “ Os Deuses da Terra” entre outros. Neste período Gibran em seu próprio ser, ver, sentir, pensar e fazer, decífra a essência humana. Ao atingir o âmago da essência do ser, ele delata e expõe a outra face do humano; Gibran se revela como sujeito, humaniza-se, escreve sua literatura com o amargor sentido pelo seu próprio corpo e com sua alma filosófica; inspirado em Nietzsche, o filósofo alemão e na imagem de Zaratustra, o “super homem” nietzschiano.
É durante este período universal do “ Filósofo desiludido”, que Gibran atinge o mais profundo do Ser; ao delinear a cartografia da alma humana e se aprimorar em sua essência nos revela a natureza sem artifícios e sem máscaras. Ele despoja o ser humano daquilo que cultura e civilização lhe inflingiu e resgata a sua potência, sua natureza primeira, viril e dionisíaca.
O resultado desta experiência foi o período áureo conhecido como “O Sábio Supremo” que nos legou “ Areia e Espuma”, “ O Jardim do Profeta”, “ Jesus, o filho do Homem” e “ O Profeta”, a obra mestra, traduzida para mais de dez idiomas, a mais vendida em todo o mundo, livro de cabeceira de milhões de pessoas.
Gibran, o americano árabe libanês de Bsharre, inundou as livrarias, as almas e o espírito de milhões de leitores, influenciou gerações com textos poéticos que são a base da psicanálise de Freud. Quem leu com atenção “os filhos”, “o Matrimônio”,, “ o trabalho”, e outros de seus textos de “O Profeta”, certamente terá captado o profundo teor psicanalítico de sua obra.
Gibran foi o feliz encontro entre Oriente e Ocidente, e foi o fruto maior da contribuição árabe ao mundo americano. Graças a sua experiência como imigrante, que tivemos a oportunidade de colher os saborosos frutos desta vivência. Vivência que o conduziu a unir este privilegiado nível de atualização a uma sabedoria milenar.
Esta maravilhosa química, é o resultado do intercambio de raças e culturas que a moderna história imigratória dos povos árabes do velho continente trouxe a este maravilhoso mundo da América.
Claude Fahd Hajjar São Paulo, 17/1/2013
* Por ocasião da inauguração do monumento a Gibran Kalil Gibran, promovido por Fearab América e a Fundacion Los Cedros, o texto original foi traduzido para o espanhol e apresentado em Buenos Aires, 9/2/1993